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Treinar para "descarregar" a raiva... sim ou não?

É da ignorância que nasce a falsa percepção do mundo que nos rodeia e consequentemente a percepção errada dos fenómenos e eventos com os quais lidamos no dia a dia. Por causa deste não saber, e pior ainda, por causa deste não querer saber, é que a raiva cresce dentro de nós todos. A tentativa de "descarregar" a raiva de nada serve, pois a raiva, assim como qualquer outra emoção (conflituosa ou não), faz parte de nós, é uma semente que habita na nossa mente e está sempre pronta a ser regada. Quem tenta usar o desporto e principalmente o desporto de contacto, por si só, para "descarregar" a raiva que cresce, comete um grande erro que trará de futuro, e inevitavelmente, más consequências para os outros e garantidamente para o próprio. Quem tenta através da extrema fadiga física, ou do bater num saco e etc, alcançar essa dita "descarga",  nada mais faz do que camuflar e adiar o problema, pois a semente estará sempre lá, e se já brotou, a única coisa que consegue é distrair a mente por um período incerto com uma nova prioridade, que é, o desgaste e os limites impostos pelo treino extremo. Deste modo consegue-se mais uma falsa sensação de alívio e de que tudo está controlado, pois a mente não consegue estar ocupada com duas coisas em simultâneo, e deste modo, passa o crescer da raiva para um segundo plano até chegar o momento de se voltar a ocupar com ela. O problema nesta atitude reside no facto de que, como a raiva ficou num período de descanso, assim que por nova falsa percepção nos sentirmos agredidos por alguém, não só a raiva volta a aparecer, como será ainda maior e mais forte, pois será um acumular, apresentar-se-a cada vez maior,  e para piorar a situação, como usamos a errada táctica do  "descarregar" através do treino, estamos nós também mais fortes, mais treinados e mais perigosos... Com o repetir deste processo acabamos por nos transformar numa perigosa, destruidora, e letal arma ambulante, e pior que tudo, pronta a disparar a qualquer momento... acabaremos a determinado momento por "descarregar" em alguém, que no local errado e à hora errada foi a ultima gota neste acumular de raiva, e neste referido momento as consequências deste "descarregar" podem ser irreversíveis e de proporções demasiado graves.
Por tudo o que foi acima referido, e na minha opinião, o treino deverá manter sempre (já referida anteriormente em diversos textos) a correcta e una prática do pólo fixo e do pólo móvel (consciêncialização vs desenvolver de capacidades físicas), de um modo permanente e respeitoso. Cabe neste processo, ao Mestre,  cumprir o seu verdadeiro papel de identificar o que realmente os discípulos precisam de praticar, versus, o que eles querem praticar, pois nem sempre o que querem é o que realmente precisam. Um bom Mestre tem sempre presente esta preocupação; primeiro os discípulos e depois o próprio. Deste modo aprendemos, experimentamos por nós mesmos e sentimos por nós mesmos, qual o caminho correcto, qual a prática correcta, de modo a manter o eixo do nosso comportamento alinhado pela consciêncialização... e da próxima vez que sentirmos raiva, teremos a capacidade de saber que podemos parar de regar a semente que a faz crescer.
Sentados em silêncio, e através de uma correcta consciêncialização, poderemos identificar as tantas outras sementes existentes no nosso interior, e com a prática e o tempo,  saberemos escolher quais as sementes que realmente podemos e até deveremos regar constantemente. Mas nunca se esqueçam, que mesmo a bater no saco, na exaustão física e até mesmo durante um conflito... todas as sementes estão presentes no nosso interior... umas trazem a paz e a liberdade de espírito ... outras... as más e inevitáveis  consequências...