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Copyright ® KMD Sistema marcial evolutivo

Estar pleno


A busca da perfeição é vista por vezes como o objectivo de um praticante de artes marciais, pelo próprio, e pelos que o rodeiam e observam o esforço e dedicação muitas vezes sofrida com que se entrega ao treino. Contudo... Será afinal o próprio caminho o verdadeiro objectivo?.. Existirá a perfeição?.. Por vezes uns optam por saltar de escola em escola, outros de mestre em mestre, outros de estilo em estilo, outros desistem por acreditarem na impossibilidade de atingir tal propósito, outros fidelizam-se cegamente e acreditam na possibilidade de lá chegarem... Outros põem tudo em causa quando se deparam com a dura realidade da derrota (física e psicológica) perante um confronto... "Afinal neste cenário completamente diferente do habitual sinto-me completamente impotente perante um caminho tão díspar do já tão sofrido e percorrido, andei a perder tempo?"... Enfim, são tantas as possibilidades que poderia ficar aqui eternamente a enumerar e a tentar relembrar de caminhos com que me cruzei, com as tantas sensações, percepções e vontades que partilhei com tantos e tão diferentes praticantes de diversas artes marciais.
No fundo, o motivo é sempre o embate entre a satisfação vs insatisfação, o eterno conflito interior. Este conflito é posto de lado temporariamente através do prazer obtido pela sensação ilusória de nos aproximarmos da referida perfeição, seja através de subjugar os outros através do desenvolvimento da força e da inteligência táctica proveniente do tal esforço e entrega aos treinos, seja pela obtenção de mais um nível (cinto, faixa), seja pelo elogio e admiração dos outros... e mais uma vez poderia ficar aqui eternamente a enumerar e enumerar e enumerar... Sem fim à vista. Eis que inevitavelmente surgirá a realidade. seja dentro ou fora do cenário e ou contexto marcial (treino, competição... no dia a dia, nas relações pessoais)... e o conflito interior regressa... Basta para isso a sensação ou a simples ameaça de derrota... Vai-se a satisfação vem a insatisfação e este conflito nunca terá fim...
Acredito que tudo se resume à sensação de plenitude, mas como todas a sensações, também esta é impermanente, carece e depende do resultado do conflito entre satisfação vs insatisfação... Mas quanto mais contacto houver com a realidade, quanto mais crescermos mentalmente, e quanto mais a insatisfação ganhar o conflito, mais possibilidades temos de atingir um estado de "contentamento" ao invés de satisfação temporária, e para este contentamento não importa se se obteve o desejado objectivo de atingir a perfeição e de ser o melhor.
O verdadeiro esforço está em abandonar os nossos pontos de vista, os velhos hábitos, já tão impregnados e que nada mais são do que deduções derivadas de normas, impostas pelo meio envolvente (sociedade, cultura, escola,  associação, federação... ... ... ... ). O anterior esforço era ganancioso e como tal sem limites, carregado de excessos que levam sempre inevitavelmente à frustração, por muitos momentos de "satisfação" que se obtenha essa ganância excessiva, esse esforço mal direccionado mantém-nos prisioneiros do referido conflito interno.
Como já foi explicado diversas vezes, a prática poderá levar ao entendimento das coisas, este entender requer sempre que se aprenda, experimente e se sinta por nós mesmos. É nesse momento, o do entendimento, que se poderá alcançar então o estado de plenitude, estar pleno é quando se descobre que se  ama o que se entende e se entende o que se ama. Neste estado de plenitude alcançamos a leveza de espírito e libertamo-nos da prisão que era o conflito interior entre a satisfação e a insatisfação.
Mesmo que a perfeição não exista, devemos manter o treino dos nossos espíritos e corpos de acordo com este estado de plenitude, seja dentro e ou fora do tatâmi... Amar o que se entende e entender o que se ama.